segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Crítica literária

Mais que uma ode à democracia

Em “1984”, um apelo pelos mais primitivos direitos humanos. Na célebre obra literária de George Orwell, o “bate-na-tecla” da análise política é apenas um dos meios de conceber as idéias do ficcional(?) socialismo estruturado pelo autor de “Revolução dos Bichos”.

A narração de um mundo socialista, dividido em três superestados, surpreende pela ousadia do autor de dar um futuro possível ao conturbado século XX. Um futuro não muito otimista, porém. Escrito em 1949, o livro deve ter assustado muita gente que o leu.

Um sistema político implacável é criado pela mente de Orwell. Interessante é quão bem estruturado e bem pensado esse sistema se mostra, ao ponto de não suscitar dúvidas no leitor – a não ser as que servem ao propósito da narrativa. A história se passa em torno de um homem, Winston Smith, que se revolta contra a ideologia do sistema de governo em vigor. Todas as implicações e conflitos mentais decorrentes do poder absoluto de uma doutrina política sobre a vida do homem são explicitados de forma chocante para nossas mentes mais do que acostumadas aos ideais da Revolução Francesa.

Toda a angústia e falta de liberdade de Winston serviriam aos leitores como um incentivo à valorização eterna da pseudodemocracia capitalista. Entretanto, sobressai às discussões de questões políticas a indignação que toma nossas mentes em face da abolição dos direitos mais ordinários do homem, como o direito a pensar e a amar.

E nada de happy-end. Ou faz parte do realismo do autor ou de suas pretensões político-ideológicas de mostrar como é impraticável falar de direitos humanos e socialismo prático ao mesmo tempo. Ou as duas coisas. Uma leitura indicada para quem quer conhecer melhor o imaginado poderio de uma potência socialista evoluída – ou distorcida, doutrinariamente falando. Seja você um marxista-leninista apaixonado ou um capitalista selvagem, “1984” vale a pena. As comparações com regimes de governo reais ficam por conta do leitor. E as intenções de George Orwell com o enredo também.

sábado, 20 de outubro de 2007

O Papo é Pop

O P da discórdia


“O pop não poupa ninguém”, diriam os Engenheiros do Hawai. Nem mesmo a boa e velha MPB. Volta e meia retorna a cena a discussão: “por que fulano ou cicrano não são MPB?”. Essa questão mostra que o brasileiro comum - e até mesmo o músico brasileiro – desconhece o sentido da expressão MPB.

Os mais apressados responderam “musica popular brasileira, seu idiota!”. De fato, esse é o significado da sigla, mas o que a sigla representa? É aí que quero (cacofonias à parte) chegar.

“Também faço MPB. Faço música porque, não sou arquiteto. Sou popular, porque não sou erudito. E sou brasileiro, já que não nasci no Japão”. Raciocínio tentador proferido por Lobão, não acha caro leitor? No entanto, farei o papel do advogado do diabo. Lobão é músico, é popular e é brasileiro, mas não é MPB.

O que ele disse não é suficiente para enquadrar ninguém nesse gênero musical e vou demonstrar por quê. Proponho um exercício de reflexão. Vamos lembrar do nascimento da música popular brasileira.

Em meados do século XIX, ainda com a escravidão e o Império, a música engatinhava na Terra Brasílis. Havia uma clara divisão: De um lado a música da corte, composta exclusivamente por ritmos europeus como ópera, valsa, polca, música clássica e outros estilos. Por outro lado, a música das camadas mais populares (negros livres, mestiços e escravos) era por excelência de origem africana, composta por batuques, pelo lundu, além de muitos tentarem imitar a música das elites com palmas e violas.

Contudo, como o povo pensa de forma semelhante a Oswald de Andrade, só lhe interessa o que não é seu. Dito isso, já dá para imaginar o que aconteceu, não? Começaram a pipocar aqui e ali vários pioneiros, que combinaram as duas vertentes aparentemente inconciliáveis e criaram algo novo e único, a MPB. Foi esse o processo que originou o choro, que depois originou o samba, que foi ingrediente da bossa nova... Ah, tá bom! Já deu para entender.

Toda essa contextualização foi para mostrar que, ao contrário do que muitos pensam, múisca popular brasileira não é aquela tocada por um nativo que faz sucesso. Esse popular não serve para designar popularidade. Esse P da discórdia é toda a música do povo, criada por ele, aperfeiçoada por ele. É a nossa identidade musical, composta por gênios como Noel Rosa, Cartola, Gonzagão, Tom Jobim, Dorival Caymi Chico Buarque, pelos tropicalistas, pelos sertanejos (os de verdade) e por todo mundo que faz algo genuinamente brasileiro, seja sofisticado como Chico Buarque ou popularesco como Calypso.

Sendo assim, valorizemos a nossa alma musical que é única no mundo. E para valorizar, é preciso conhecer. Temos muita gente boa se aventurando na área atualmente, gente que agradará até ao adolescente rockeirão que acha MPB coisa de velho. Você não é obrigado a gostar de nada. Não precisa ser fã de Bossa Nova, de Samba de raiz, de Djavan. Mas ao menos experimente ouvir o som de um Zeca Baleiro, do Seu Jorge e de tantos outros. Você vai perceber que essa galera é bem mais Rock’n’roll do que você imaginava.

***

Cinco músicas que você deve ouvir:

Aproveitando a onda, vão aí umas dicas pro pessoal que eu mencionei acima:


Zeca Baleiro – Piercing (Vô Imbolá)
Seu Jorge – São Gonça (Cru)
Los Hermanos – Samba a Dois (Ventura)
Nação Zumbi - Manguetown (Afrociberdelia)
Maria Rita – Caminho das Águas (Segundo)

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Fazendo um social

Jardim do Éden

A linda Eva Mendes (foto) revelou, em entrevista à revista OK! Magazine, gostar de ficar como veio ao mundo, indumentariamente falando: "Adoro ficar nua. Faço tudo pelada, até jardinagem! Somos cubanos, e a ilha é quente. Por que não ficar nua?". Cada louco com sua mania. Mas pelo menos Eva tem um belo corpo para mostrar para possíveis curiosos (para não dizer pervertidos) vizinhos adolescentes. Seria o capricho da atriz um dialogismo pós-moderno com a passagem bíblica correspondente ou um simples desabafo aliviado a uma revista sensacionalista?

Paradoxalmente, Eva Mendes diz ter ficado muito tensa e envergonhada nas gravações das cenas de sexo do filme We Own the Night, com Joaquin Phoenix, previsto para ser lançado esse ano ainda. Culpa do paradigma que nos aflige de que sexo se faz na cama! Se o roteirista fosse um pouco menos preso a padrões socioculturais de acasalamento humano, Eva Mendes talvez se sentisse mais vontade num jardinzinho cenográfico! Perdoem-me as ironias.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

De Olho no Lance

O Brasil é logo ali


"Se algum atleta se sente menosprezado de não estar na seleção brasileira não é problema meu, ele que espere ser vendido para um clube grande como Barcelona, Milan. E jogador para atuar na seleção é preciso ter ética e não falar mal dos companheiros".

Essa foi uma das últimas declarações de Dunga(foto), técnico (?) da seleção brasileira. O alvo dessa vez foi o meia Souza, jogador do São Paulo. Dunga reclamou da atitude do jogador, que reclamou publicamente da não-convocação de Rogério Ceni para a seleção.

Polêmicas a parte, o que assusta é a pequenez de pensamento do técnico da maior equipe do mundo. Todos sabem que o papel de mero exportador de talentos cada vez mais destrói o futebol brasileiro. A prova disso é o público médio dos jogos no país e o nível técnico das partidas, ambos baixos.

Sim, Barcelona e Milan são gigantes do mundo da bola. Contudo, Dunga deveria conhecer – e respeitar – a tradição de nossos clubes. Santos, Botafogo, Flamengo, Grêmio, Cruzeiro... Todos clubes seculares, com torcidas imensas e uma história de fazer inveja a vários clubes europeus.

Dunga esqueceu de dizer se considera o CSKA Moscou, o Dínamo de Kiev e o Shaktar Donetzky também são potencias futebolísticas. Afinal de contas, nosso técnico chama mais jogadores dos antes esquecidos times russos e ucranianos do que atletas dos times brasileiros. Para Dunga, o Brasil de verdade fica no leste. É logo ali, perto da Criméia.

***

E Cuca voltou ao Botafogo. Que coisa não? Confesso que nunca vi caso de uma readmissão dez dias depois de um técnico se demitir. Parece piada...

Não estou discordando da volta do técnico alvinegro, muito pelo contrário. Cuca não deveria ter saído da equipe, mas agora o estrago já está feito. Carlos Augusto Montenegro, vice de futebol do clube, fez o “favor” de acabar com o resto de moral que o elenco ainda tinha. “Fazer o que, são esses caras que vão ter que jogar até o final do ano!” foi apenas uma de suas declarações infelizes.

O Botafogo ano a ano vem subindo degraus em direção a sua dignidade. Já tem uma administração moderna, o melhor estádio do país e alguma infra-estrutura. Precisa agora se livrar de seus últimos torcedores-dirigentes, gente que levou o time ao fundo do posso cinco anos atrás.

***

Marion Jones(foto), medalista de ouro em três provas nos Jogos Olímpicos de Sidney (2000), assumiu ter competido sob o efeito do esteróide THG. A droga, que só foi descoberta graças a uma denúncia anônima provocou uma crise de credibilidade do esporte a alguns anos. Volta à evidência agora.

Infelizmente, o esporte de alto rendimento cada vez mais é agredido por condutas ilícitas. O dopping não está sozinho. Manipulação de resultados (Liga Italiana de Futebol 2005-2006), espionagem (Escândalo na F1 envolvendo a McLaren, esse ano) e erros grosseiros de arbitragem (Campeonato Brasileiro de 2007, Copa de 2002) são outros problemas a serem combatidos. Resta saber quando.

Comunicado importante!

Bem, nosso querido blog foi hoje alvo de descontraída reunião entre eu, Isabella, Igor e nosso mais novo - porém não menos importante - participante: Vitor Straliotto. Ele põe um g no sobrenome quando assina mas é artístico!

Esperamos que hoje tenha sido um dia importante para a trajetória do Pensamento Alheio. Vai haver uma "departamentalização" dentro do blog, dividindo os assuntos a serem tratados por área de conhecimento (ou de desconhecimento). Esperamos dar ao nosso leitor uma postagem nova todos os dias, ou quase.

Desde já anuncio algumas novidades:
>> a criação de uma coluna de rica análise da fisiologia externa e dos aspectos expositivos da superfície de organismos cujo par de cromossomos sexuais são chamados XX. É isso mesmo que você pensou, os caras vão na careta olhar vários bumbuns comprados e lançar seus olhares machistas sobre o "conteúdo";
>> uma sessão - essa sim, decente! - de resenhas e comentários de livros, filmes e música;
>> coluna social! Não podia faltar... mas virá de forma diferente do lugar-comum. Aguardem!
E muito mais!

Então até lá!
Sorte e competência para nós!

Um abraço a todos os leitores!
Tá, eu sei que ninguém vai ler, mas o que vale é a intenção!

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Um Mar de Sutilezas

Muitas vezes certos gêneros cinematográficos são tão contaminados por clichês e pela repetição de modelos outrora bem-sucedidos que o espectador mais crítico já entra no cinema cheio de opiniões formadas antes mesmo de assistir ao filme. É possível que isso aconteça com Ligeiramente Grávidos (Knocked Up).

O filme, que tem direção e roteiro de Judd Apatow, conta a história de Ben (Seth Rogen) e Alison (Katherine Heigl), o típico caso onde os opostos acabam por se atrair. Alison é uma repórter iniciante que trabalha em um canal de celebridades e acaba de receber uma promoção. Ben é um homem rechonchudo de vinte e poucos anos que, junto com um grupo de amigos, vive em uma eterna adolescência.

Por obra do acaso, os dois se encontram em uma boate e acabam conversando, dançando e bebendo um bocado, não demorando muito para que resolvam passar a noite juntos. O que era para ser apenas uma noite se torna algo muito maior. Oito semanas depois a garota descobre que está grávida.

É nesse ponto que o filme afasta-se das obviedades e começa a trilhar seu próprio caminho. O relacionamento do casal principal flui de forma natural, começando com uma amizade e evoluindo até o amor. O oposto do que acontece com o casamento de Debbie (Leslie Mann), irmã de Alison, e Pete (Paul Rudd). A crise no casamento da irmã acaba afetando Alison, pois começa a se questionar se pode ser feliz com um homem tão diferente dela. Por conta disso, às vésperas do parto, a sua relação com Ben fica abalada.

A interação entre o elenco dá às dúvidas e conflitos de cada um dos personagens uma sensibilidade invejável. A dupla formada por Ben e Pete fala sobre as ambições, medos e frustrações que afligem boa parte dos homens antes do casamento de forma muito verossímil. Da mesma forma, Alison e Debbie ajudam-se a controlar a insegurança que as dominava.

O ponto alto do filme sem dúvida alguma é o roteiro. A leveza que dá o tom de todo filme constrói um clima no qual as emoções e diálogos sérios respeitam a inteligência do espectador, criando um motivo coerente para cada acontecimento.

“Ligeiramente Grávidos” é uma excelente diversão. Humor afiado, verossimilhança e sensibilidade transformam a obra em um mar de sutilezas, se comparado à que filmes similares apresentam geralmente. Um filme que agradará tanto o fã de “besteirol” quanto quem gosta de filmes sobre relacionamentos.

[Resenha originalmente publicada em "UERJ Viu"]