sábado, 20 de outubro de 2007

O Papo é Pop

O P da discórdia


“O pop não poupa ninguém”, diriam os Engenheiros do Hawai. Nem mesmo a boa e velha MPB. Volta e meia retorna a cena a discussão: “por que fulano ou cicrano não são MPB?”. Essa questão mostra que o brasileiro comum - e até mesmo o músico brasileiro – desconhece o sentido da expressão MPB.

Os mais apressados responderam “musica popular brasileira, seu idiota!”. De fato, esse é o significado da sigla, mas o que a sigla representa? É aí que quero (cacofonias à parte) chegar.

“Também faço MPB. Faço música porque, não sou arquiteto. Sou popular, porque não sou erudito. E sou brasileiro, já que não nasci no Japão”. Raciocínio tentador proferido por Lobão, não acha caro leitor? No entanto, farei o papel do advogado do diabo. Lobão é músico, é popular e é brasileiro, mas não é MPB.

O que ele disse não é suficiente para enquadrar ninguém nesse gênero musical e vou demonstrar por quê. Proponho um exercício de reflexão. Vamos lembrar do nascimento da música popular brasileira.

Em meados do século XIX, ainda com a escravidão e o Império, a música engatinhava na Terra Brasílis. Havia uma clara divisão: De um lado a música da corte, composta exclusivamente por ritmos europeus como ópera, valsa, polca, música clássica e outros estilos. Por outro lado, a música das camadas mais populares (negros livres, mestiços e escravos) era por excelência de origem africana, composta por batuques, pelo lundu, além de muitos tentarem imitar a música das elites com palmas e violas.

Contudo, como o povo pensa de forma semelhante a Oswald de Andrade, só lhe interessa o que não é seu. Dito isso, já dá para imaginar o que aconteceu, não? Começaram a pipocar aqui e ali vários pioneiros, que combinaram as duas vertentes aparentemente inconciliáveis e criaram algo novo e único, a MPB. Foi esse o processo que originou o choro, que depois originou o samba, que foi ingrediente da bossa nova... Ah, tá bom! Já deu para entender.

Toda essa contextualização foi para mostrar que, ao contrário do que muitos pensam, múisca popular brasileira não é aquela tocada por um nativo que faz sucesso. Esse popular não serve para designar popularidade. Esse P da discórdia é toda a música do povo, criada por ele, aperfeiçoada por ele. É a nossa identidade musical, composta por gênios como Noel Rosa, Cartola, Gonzagão, Tom Jobim, Dorival Caymi Chico Buarque, pelos tropicalistas, pelos sertanejos (os de verdade) e por todo mundo que faz algo genuinamente brasileiro, seja sofisticado como Chico Buarque ou popularesco como Calypso.

Sendo assim, valorizemos a nossa alma musical que é única no mundo. E para valorizar, é preciso conhecer. Temos muita gente boa se aventurando na área atualmente, gente que agradará até ao adolescente rockeirão que acha MPB coisa de velho. Você não é obrigado a gostar de nada. Não precisa ser fã de Bossa Nova, de Samba de raiz, de Djavan. Mas ao menos experimente ouvir o som de um Zeca Baleiro, do Seu Jorge e de tantos outros. Você vai perceber que essa galera é bem mais Rock’n’roll do que você imaginava.

***

Cinco músicas que você deve ouvir:

Aproveitando a onda, vão aí umas dicas pro pessoal que eu mencionei acima:


Zeca Baleiro – Piercing (Vô Imbolá)
Seu Jorge – São Gonça (Cru)
Los Hermanos – Samba a Dois (Ventura)
Nação Zumbi - Manguetown (Afrociberdelia)
Maria Rita – Caminho das Águas (Segundo)

Um comentário:

Priscila Santiago disse...

Irmão,favor aderir a campanha DIVULGUE O NOME DO AUTOR DAS MÚSICAS.Pode parecer bobagem,mas faz toda a diferença.